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ANO 23 • NÚMERO 37 • JULHO DE 2018 |
Artigo |
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Ressecção artroscópica do cisto sinovial volar do punho: Descrição da técnica e série de casos. Trabalho aceito para publicação na RBO. |
por Ricardo Kaempf de Oliveira, João Pedro Farina Brunelli, Leohnard Roger Bayer, Márcio Aita, Gustavo Mantovani, Pedro J Delgado |
Introdução: O cisto sinovial, também chamado de cisto gangliônico, é a lesão tumoral mais frequente do punho. Embora a localização volar não seja a mais frequente, ela aparece em até 20% dos pacientes. A maioria se origina da articulação rádio-cárpica, embora também possa se originar da articulação médio-cárpica, principalmente na articulação escafo-trapézio-trapezoide. Objetivo: O uso da técnica artroscópica está bem difundido para o tratamento dos cistos dorsais. Nosso objetivo é descrever a técnica e os resultados do uso da artroscopia para o tratamento cirúrgico dos cistos sinoviais volares no punho. Técnica cirúrgica: O procedimento é realizado com bloqueio regional de plexo braquial e com uso de garrote pneumático. O paciente é posicionado em decúbito dorsal e o braço é fixo na mesa de apoio com auxílio de suporte de tração, ficando com o cotovelo em flexão de 90 graus. Os dedos longos são envoltos por malha chinesa, facilitando o posicionamento e a colocação de tração contínua ao zênite com cinco quilos (Figura 1).
Inicialmente o cisto é marcado com uma caneta dermográfica para demonstrar o seu tamanho e localização, facilitando a sua ressecção e servindo como parâmetro para observar o esvaziamento do seu conteúdo após o procedimento. Os portais dorsais para a artroscopia de punho são palpados e marcados. Para o procedimento, utiliza-se uma óptica de 2.7 milímetros (mm) de diâmetro, com 30° de angulação. Primeiramente é confeccionado o portal 3/4, com uma angulação de 12° de proximal para distal, seguindo a anatomia normal da articulação rádio-cárpica, isso facilita a entrada da óptica, evitando dano iatrogênico ao tecido cartilaginoso. Após, deve-se localizar o pedículo do cisto, que na maioria dos pacientes se encontra no intervalo dos ligamentos rádio-cárpicos volares, em geral entre o ligamento rádio-escafo-capitato (LREC) e o ligamento rádio-semilunar longo (LRSL) (Figura 2).
[crédito da arte - Renata Ribak]
Para a ressecção e drenagem do cisto sinovial volar, a óptica é posicionada, ainda pelo portal 3/4, em frente ao intervalo entre o LREC e o LRSL. Com o auxílio da visão intra-articular, um novo portal é feito, o 1/2, para instrumentação com shaver de partes moles de 2.0 ou 2.9mm. Para facilitar a localização do pedículo, realiza-se pressão manual externa sobre o cisto. Com isso, uma proeminência de tecido sinovial hipretrófico aparecerá no intervalo desses dois ligamentos. Esse é o local do pedículo do cisto, e uma vez que a cápsula seja perfurada, o conteúdo mucoso do cisto irá extravasar para dentro da articulação, comprovando que sua parede foi rompida. A abertura da cápsula e a sucção continua do conteúdo do cisto proporcionará o desaparecimento completo da massa tumoral. A partir daí deve-se ter cuidado com as estruturas nobres nos planos profundos, como a artéria radial, os tendões flexores e nervo sensitivo radial. O tecido sinovial anormal deve ser ressecado junto com uma porção de quatro a seis mm da cápsula volar, formando um defeito em forma de janela (Figura 3).
Novamente a pressão externa sobre o cisto poderá ajudar na ressecção do pedículo do cisto e na drenagem completa do seu conteúdo. Se houver dúvida que o cisto foi ressecado em sua totalidade ou dificuldade na drenagem pode-se realizar a troca de portais, colocando a óptica no portal 6R e o shaver no portal 3/4. Isso dará um ângulo de ataque mais direto do shaver em relação ao pedículo do cisto. Material e método: Foram incluídos e analisados neste trabalho 21 pacientes submetidos à artroscopia para o tratamento de cisto sinovial volar no punho, no período entre janeiro de 2015 a maio de 2017, com avaliação completa e mínima de seis meses. Resultados: A média de idade dos pacientes foi de 43.6 anos, sendo 16 do sexo feminino (76%). O tempo de seguimento médio entre a cirurgia e a avaliação final foi de 10.9 meses. Dois pacientes apresentaram dor leve e uma restrição da mobilidade no pós-operatório. Nos 18 pacientes restantes houve melhora das queixas estéticas, recuperação funcional completa e melhora completa da dor. Não houve recidivas ou infecções. Nenhum necessitou ser submetido à nova cirurgia. Conclusões: O presente trabalho evidencia que os bons resultados mostram que essa é uma boa opção também para os cistos volares, em comparação à técnica clássica aberta. A ressecção artroscópica do cisto sinovial volar mostrou-se uma técnica útil e segura. É um procedimento minimamente invasivo com baixa morbidade e com poucas complicações, sendo uma boa alternativa à técnica aberta.
Referências Bibliográficas: |