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ANO 23 • NÚMERO 36 • JULHO DE 2018
 
 
Artigo Comentado
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Atrofia de tecidos moles relacionada à infiltração com corticoide: Revisão da Literatura e implicações para o Cirurgião de Mão

JOURNAL OF HAND SURGERY, Junho de 2018, Vol. 43, Issue 6, Páginas 558–563.
  Autores: Collier S. Pace, MD; Nadia P. Blanchet, MD; Jonathan E. Isaacs, MD. – Richmond, Virginia, EUA.
 
 

Os membros da SBCM e especialistas do IOT HC/FMUSP, Prof. Dr. Marcelo Rosa de Rezende, Dr. Gustavo Bersani Silva e Dr. Tiago Guedes da Motta Mattar, comentaram artigo publicado no Journal of Hand Surgery, em junho de 2018. Confira:

A proposta deste artigo foi analisar, à luz da evidência científica mais recente, a utilização de infiltrações de corticoide (IC) pelo cirurgião de mão, com ênfase em detalhes da utilização da droga e possíveis complicações, principalmente atrofia local dos tecidos moles e hipopigmentação da pele após a injeção.

As perguntas que o artigo procura esclarecer são: Há algum corticoide ideal para emprego, qual a dosagem, quais cuidados o cirurgião de mão deve ter e quais as possíveis complicações de seu uso? O artigo aborda ainda o tratamento caso complicações ocorram.

O artigo cita uma revisão sistemática de 87 estudos, sendo que apenas 5 relatam a frequência de atrofia de tecidos moles (1,5% a 40%), e 6 estudos apontam a frequência de hipopigmentação da pele (1,3% a 4%). Os autores relatam que a incidência de complicações de partes moles relacionadas a IC pode chegar a 31% para uso em tenossinovite de De Quervain e até 40% para epicondilite lateral.

PATOFISIOLOGIA DA LESÃO: Amostras de tecido subcutâneo de sítios de atrofia induzida por IC revelam uma diminuição no número e tamanho dos adipócitos, atrofia epidérmica e dérmica, achatamento das cristas interpapilares, disfunção dos melanócitos e diminuição da síntese de colágeno tipo 1 e tipo 3 na pele. Em geral, esses efeitos colaterais tendem a se manifestar entre 2 e 4 meses após a injeção. A atrofia e hipopigmentação podem regredir espontaneamente, 9 a 12 meses após a injeção inicial, mas ocasionalmente as alterações podem ser permanentes. Paciente com pele mais escura têm maior risco de hipopigmentação.

RECOMENDAÇÕES: Estudos demonstraram maior gravidade e incidência de atrofia de tecidos moles e hipopigmentação cutânea com preparações de triancinolona. Triancinolona e metilprednisolona contêm compostos ésteres, que os tornam altamente insolúveis em água, aumentando o risco de complicações. Já as preparações de betametasona são mais solúveis. A profundidade de injeção e a concentração da preparação também importam, com injeções superficiais e mais concentradas apresentando maior efeito adverso. Uma pequena quantidade de solução (0,5 a 2 mL) poderá ser administrada com mais precisão, diminuindo o risco de extravasamento para o tecido circundante. Deve ser empregada a agulha de menor diâmetro possível que permita atingir a região desejada (curta demais também aumenta o risco de droga atingir tecido inapropriadamente). Preparações esteróides menos solúveis (de ação prolongada) terão um efeito mais prejudicial nos tecidos moles circundantes, podendo inclusive formar depósitos de cristais nos tecidos (triancinolona). Os autores sugerem a utilização de betametasona ou dexametasona em detrimento da triancinolona e metilprednisolona.

TRATAMENTO: Para pacientes que desenvolveram atrofia do subcutâneo, a lipoenxertia tem demonstrado ser uma modalidade de tratamento segura e eficaz. Não há tratamento específico para a hipopigmentação.

Limitações do estudo são o fato de apresentar conclusões com baixo nível de evidência (revisão da literatura/séries de casos). Os critérios para condução da revisão sistemática citada não foram descritos, sendo que esta deixou clara a necessidade de estudos de melhor qualidade para nortear o uso adequado das IC.

   
   
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