...
 
ANO 23 • NÚMERO 35 • MARÇO DE 2018
 
 
Artigo
...
 
Estudo da regeneração nervosa em nervo periférico de ratos da linhagem SHR utilizando Plasma Rico em Fibrina (PRF).

Artigo publicado na Biblioteca Virtual da Fapesp
  por Jordana Scheeren, Marcela Fernandes, Sandra Gomes Valente, Luis Renato Nakachima, Carlos Henrique Fernandes, João Baptista Gomes dos Santos, Flávio Faloppa.
 
 

Introdução: Lesões de nervos periféricos representam um desafio para a microcirurgia, e ​​raramente apresentam recuperação funcional sem intervenção cirúrgica 1,2. Quando ocorre perda de substância nervosa, o enxerto de nervo é o tratamento padrão-ouro para reparo de lesões de nervos periféricos 3-7. O Plasma Rico em Fibrina (PRF), substância dotada de fatores de crescimento, tem sido usado para auxiliar no processo de cicatrização após reparo do nervo8.

Objetivo: O objetivo deste estudo foi avaliar se o uso de PRF melhora a taxa de regeneração nervosa após reparo de nervo periférico.

Material e Métodos: Trinta ratos isogênicos SHR foram divididos em 3 grupos: enxerto de nervo (ENX) (n=10); enxerto de nervo coberto por PRF (ENXP) (n=10); e grupo controle SHAM (n=10). A avaliação dos resultados se deu pelo índice funcional do ciático (IFC) através do CATWALK system 9-11, análise morfométrica e morfológica do nervo ciático na zona distal à lesão e contagem do número de motoneurônios no corno anterior da medula12. Foram realizadas análise da marcha através do índice funcional do ciático (IFC) periodicamente, e análise histomorfométrica 120 dias pós-operatório.

Resultados: Os grupos ENX e ENXP apresentaram queda abrupta do IFC após o procedimento cirúrgico, quando comparado ao IFC pré-operatório (Figura 1). Não houve diferença estatística quando comparado com os grupos ENX e ENXP ao longo do período de avaliação.

Figura 1: Índice funcional do ciático (IFC) em 0, 30, 60 e 90 dias, nos animais dos grupos SHAM, ENX e ENXP.

O grupo SHAM não apresentou anormalidades morfológicas nos nervos analisados. Foram observadas fibras mielinizadas de grande calibre e preservação do espaço endoneural. Neste grupo não houve sinais de degeneração Walleriana, e os fascículos apresentaram morfologia inalterada.

Nos grupos ENX e ENXP foram observadas alterações morfológicas nos fascículos nervosos demonstrados por perda de fibras mielinizadas de grande calibre e predominância de fibras mielinizadas de pequeno calibre. Foram verificados sinais de degeneração Walleriana.

A tabela 1 mostra os resultados das análises morfológica e morfométrica.  Notamos que os animais do grupo SHAM apresentaram aumento estatisticamente significante do diâmetro da fibra e do axônio e da espessura da bainha, quando comparados aos demais grupos ENX e ENXP, e menor densidade de fibras mielinizadas quando comparados aos outros dois grupos, porém sem diferença estatística.

Grupos

Diâmetro da fibra (μm)

Diâmetro do axônio (μm)

Espessura da bainha de mielina (μm)

Índice G

Densidade de fibras mielinizadas

SHAM

11,54 ± 0,34

6,22 ± 0,24

2,66 ± 0,18

0,53 ± 0,02

41,68 ± 5,40

ENX

7,76 ± 0,28

4,15 ± 0,45

1,73 ± 0,08

0,53 ± 0,03

53,62 ± 12,14

ENXP

4,45 ± 0,31

2,32 ± 0,24

1,07 ± 0,06

0,51 ± 0,02

63,20 ± 9,80

p

<0,001

<0,001

<0,001

0,403

0,013

Tabela 1: Análise morfométrica dos nervos corados com azul de toluidina, nos grupos estudados.

Na comparação entre os grupos ENX e ENXP observamos que o grupo ENX apresentou aumento estatisticamente significante do diâmetro da fibra e do axônio e da espessura da bainha de mielina quando comparado ao grupo ENXP. O contrário ocorreu na densidade de fibra mielinizadas, em que o grupo ENX apresentou menor valor quando comparado ao grupo ENXP, porém sem diferença estatística.

Não houve diferença estatística com relação ao índice G quando comparados os três grupos.

A média do número de neurônios motores, corrigidos pelo fator Abercrombie13, corados no corno anterior da medula foi significativamente maior no grupo SHAM (687,89 ± 107,76), comparado ao grupo ENX (542,19 ± 10,30) e ENXP (515,84 ± 18,17). Também houve diferença estatisticamente significante no número de motoneurônios quando comparados os grupos ENX e ENXP, sendo maior no grupo ENX.

Conclusão:
No nosso estudo não houve diferença estatística entre ENX e ENXP na análise do IFC e na contagem de motoneurônios, apresentando diferença apenas na espessura da bainha de mielina nos diâmetros da fibra e do axônio. Mais estudos são necessários para esclarecer a eficácia do PRF na recuperação do nervo periférico após lesão traumática.

Referências Bibliográficas:

  1. Lichtenfels M, Colome L, Sebben AD, Braga-Silva J. Effect of Platelet Rich Plasma and Platelet Rich Fibrin on sciatic nerve regeneration in a rat model. Microsurgery. Jul 2013;33(5):383-390.
  2. Millesi H. Forty-two years of peripheral nerve surgery. Microsurgery. 1993; 14: 228-33.
  3. Millesi H. Further experience with interfascicular grafting of the median, ulnar and radial nerves. J. Bone Joint Surg. (Am). 1976; 58:209-18.
  4. Haase J. Median and ulnar nerve transactions treated with microsurgical interfascicular cable grafting with autogenous sural-nerve. J Neurosurgery. 1980; 53:73-84.
  5. Merle M, Amend P, Foucher G, et al. Plaidoyer sur la reparation primaire microchirurgicale des lesions des nerfs périphériques. Chirurgie. 1984; 110: 761-71. 
  6. Novak CB, Kelly L, Mackinonn SE. Sensory recovery after median nerve grafting. J Hand Surgery. 1992; 17: 59-68.
  7. Sigh R and Mechelse K. Long-term results of transplantations to repair median, ulnar and radial nerve lesions by a microsurgical interfascicular autogenous cable graft technique. Surg Neurol. 1992; 37: 425-431.
  8. Choukroun J, Diss A, Simonpieri A, Girard MO, Schoeffler C, Dohan SL, Dohan, AJJ, Mouhyi J, Dohan DM. Platelet-rich fibrin (PRF): A second-generation platelet concentrate. Part IV: Clinical effects on tissue healing. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2006; 101:E56-60.
  9. Gabriel AF, Marcus MAE, Honig WMM, Walenkamp GHIM, Joosten EAJ. The CatWalk method: A detailed analysis of behavioral changes after acute inflammatory pain in the rat. Journal of Neuroscience Methods 163 (2007) 9–16.
  10. Bozkurta A, Deumensb R, Scheffela J, O’Deya DM, Weisb J, Joostenc EA, Führmannb T, Brookb GA, Pallua N. CatWalk gait analysis in assessment of functional recovery after sciatic nerve injury. Journal of Neuroscience Methods 173 (2008) 91–98.
  11. Deumens R, Jaken RJP, Marcus MAE, Joosten EAJ. The CatWalk gait analysis in assessment of both dynamic and static gait changes after adult rat sciatic nerve resection. Journal of Neuroscience Methods 164 (2007) 120–130.
  12. Dellon AL, Mackinnon SE. Selection of the appropriate parameter to measure neural regeneration. Ann Plast Surg. Sep 1989;23(3):197-202.
  13. BJ W. Statistical Principles in Experimental Design. Vol 21971. Abercrombie
   
   
...