Em tempos de pandemia, o isolamento social forçou as crianças a uma prolongada permanência em suas casas, proporcionando um aumento expressivo dos acidentes domiciliares como queimaduras, ferimentos e fraturas, por exemplo.

Na medida em que a ocupação de leitos hospitalares crescia assustadoramente, com a propagação do Covid-19, as cirurgias eletivas eram sistematicamente suspensas por tempo prolongado, acumulando centenas de casos cirúrgicos que deixaram de ser tratados no seu momento ideal, resultando em sequelas de difícil solução. Do mesmo modo houve um agravamento das deformidades congênitas das mãos, como consequência do crescimento desigual dos segmentos afetados da mão e da demora em iniciar o tratamento.

A Sociedade Brasileira de Cirurgia da Mão (SBCM), consciente da gravidade deste cenário, decidiu dedicar o ano de 2021 ao tema de atenção às mãos das crianças, concentrando suas ações no tratamento cirúrgico das deformidades congênitas e lesões traumáticas da mão pediátrica.

Para tal, a SBCM desenvolveu vários projetos temáticos que estão sendo  executados ao longo do ano, tais como cursos, jornadas, congresso, publicação de livro texto e que culminará  numa ação social nacional de trabalho voluntário de seus membros na realizacão de cirurgias corretivas em todos os 35 serviços credenciados da SBCM, distribuídos por todo os país. A sede principal da ação social ocorrerá em Belém (PA).

O Estado do Pará foi escolhido como a sede principal da ação social pela demanda reprimida de cirurgias corretivas das deformidades, consequência da carência de especialistas em Cirurgia da Mão na rede pública, em que quase a totalidade dessas deformidades são encaminhadas para tratamento fora do Estado. Tais cirurgias serão realizadas por um grupo seleto de especialistas nacionais e internacional treinados para esse propósito.

O desfecho deste ano temático será celebrado em dezembro, no Rio de Janeiro, onde ocorrerá o 41º Congresso Brasileiro de Cirurgia da Mão em conjunto com o 18º Congresso Latino-Americano de Cirurgia da Mão e o 12º Congresso Brasileiro de Terapeutas da Mão.

Leia a seguir a entrevista com Dr. Rui Sérgio Monteiro de Barros, 2º Secretário da SBCM, Professor Adjunto Doutor da UEPA e responsável pela ação social em Belém (PA):

Em qual data ocorrerá a ação?

Entre os dias 01 e 02 de novembro de 2021, das 7h às 18h.

Em qual hospital acontecerá a ação?

Hospital Abelardo Santos Icoaraci (Belém).

Qual o nome do projeto?

Ação social de correção cirúrgica de deformidades das mãos de crianças em Belém (PA) – 2021.

Ele será feito em parceria com outras instituições?

Será executado com a Secretaria de Estado de Saúde Pública; Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia – Regional Pará e Associação Médica Brasileira (AMB)

O que será feito na ação?

Cirurgiões brasileiros e um mexicano deverão vir a Belém para operar cerca de 20 crianças oriundas de diversos municípios paraenses.

Como é feita a seleção de pessoas que serão atendidas?

Todas as crianças foram selecionadas pelos ortopedistas pediátricos do CIIR (Centro Integrado de Inclusão e Reabilitação).

Tem uma estimativa de quantas pessoas serão atendidas pela ação?

Serão atendidas 20 crianças.

Essa ação já ocorreu outras vezes?

Esta é uma ação inédita da SBCM.

Quantos médicos participarão da ação?

19 cirurgiões da mão/ortopedistas, 5 anestesistas, pediatras, cardiologistas, cirurgiões plásticos.

Como o senhor ressalta a importância dessa ação?

O Estado do Pará tem uma demanda reprimida de cirurgias corretivas para deformidades da mão pela carência de especialistas em Cirurgia da Mão na rede pública e muitas dessas deformidades são encaminhadas para tratamento fora do nosso Estado. A SBCM desenvolveu vários projetos que deverão ser realizados ao longo do vigente ano e que culminará com uma ação social de trabalho voluntário de cirurgias corretivas na cidade Belém, no estado do Pará. Tais cirurgias serão realizadas por um grupo seleto de especialistas nacionais e internacional treinados para esse propósito.

Qual o impacto social desta ação?

Estudos mostram que a deformidade congênita da mão é importante fator de desagregação familiar pelo expressivo sentimento de culpa gerado nos pais. São deformações desagradáveis que invariavelmente expõem a criança a uma vida de bulling e toda sorte de dificuldades de socialização que se inicia desde o período escolar e perduram por toda vida adulta. Deformidades que poderiam ser satisfatoriamente corrigidas na infância acabam desenvolvendo deficiências físicas definitivas na vida adulta, resultando, pelo expressivo número de casos, numa enorme perda de força produtiva à nação e elevando custos institucionais de incentivo à inclusão social e de inserção no mercado de trabalho.