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ANO 23 • NÚMERO 47 • MARÇO DE 2021
 
 
Entrevista
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Número de médicos no Brasil cresceu na última década

O vice-presidente do Conselho Federal de Medicina, Donizetti Giamberardino, concedeu entrevista ao Manus sobre o estudo “Demografia Médica no Brasil 2020”, realizado pelo CFM em parceria com a Universidade de São Paulo (USP). O texto científico apresenta informações sobre a população de médicos no Brasil na última década e seu exercício profissional.

No caso dos especialistas em cirurgia da mão, por exemplo, o estudo mostra que há 923 profissionais em todo território nacional, sendo 84,1% do sexo masculino e 15,9% feminino. A maior parte dos profissionais está na região Sudeste (57,1%), seguida do Sul (17,6%) e Nordeste (14,7%). As regiões Centro- Oeste (7,2%) e Norte (3,4%) são as que têm menor concentração de cirurgiões da mão.

 

Acompanhe a entrevista:

  1. Quais foram os principais resultados do estudo “Demografia Médica no Brasil 2020”?

A publicação Demografia Médica no Brasil está em sua quinta edição e, hoje mostra que o Brasil tem mais do que o dobro de médicos que tinha no início do século. Em 2000, eram 230.110 médicos. Em 2020, eles somam 502.475 profissionais. Nesse período, a relação de médico por mil habitantes também aumentou significativamente, na média nacional, passando de 1,41 para 2,4. Esta proporção é superior à do Japão e se aproxima dos índices dos Estados Unidos (2,6), Canadá (2,7) e Reino Unido (2,8).

O estudo também demonstra que a perspectiva é que a proporção de médicos por grupos de 1.000 continue crescendo, já que os médicos trabalham em média 40 anos e anualmente cresce o número de novos formandos. Estima-se que, em 2024, 31.849 novos médicos entrem no mercado de trabalho, o que corresponde ao número de vagas de graduação oferecidas no país em 2017. Esse contingente previsto é mais que o dobro do número de médicos que se registraram nos CRMs em 2012, que foi de 16.425.

Para ter acesso ao estudo completo, clique aqui.

 

  1. O que falta para uma distribuição de médicos mais igualitária em todas as regiões do país?

A desigualdade de um país não está localizada só no setor saúde. Ou seja, há uma desigualdade social em todo nosso País continental. Nesse sentido, nós precisamos de políticas públicas para que profissionais de saúde, incluindo médicos, se fixem nas cidades de menor provimento. Isso não é possível uma lógica de mercado. Isso só é possível com uma política de carreira pública e atrativos para que os jovens profissionais fixem residência e constituem famílias em regiões mais remotas do nosso País, ou seja, nós precisamos combater a desigualdade como um todo, incluindo o setor da saúde. No tocante ao número de médicos no Brasil, sua distribuição segue o mesmo processo da desigualdade. Nós temos um número razoável de médicos para a população brasileira, mas distribuídos de uma forma desigual concentrado em cidades maiores e estados mais ricos. Ou seja, em locais mais carentes nós temos um menor número de médicos e demais profissionais de saúde. A fixação desses médicos passa também por uma política de recursos humanos como já citamos e temos a certeza que a criação de escolas médicas em cidades de médio porte não fixa o médico nestas localidades. Então, essa política de aumento insano de vagas em escolas médicas é algo preocupante, pois nós temos que estar atentos com a qualidade dos médicos formados. Pode até ser um número maior, mas nós não podemos permitir que as escolas médicas funcionem baseadas em interesses financeiros.

 

  1. Em relação as especialidades médicas, qual a importância do crescimento de profissionais especializados, como os cirurgiões da mão?

Como nós falamos quanto a distribuição de médicos em geral, acompanhamos também a distribuição dos especialistas. O documento “Demografia Médica no Brasil 2020” demonstra que as especialidades médicas também se concentram nos maiores centros urbanos porque lá existem as estruturas de atendimento médico com mais infraestrutura tecnológica e predial. Então, nesse sentido nós precisamos de uma reorganização de um sistema de saúde de tal forma de que nós consigamos formar uma rede organizada hierarquizada para que criemos centros de especialidades de acordo com a distribuição geográfica para assim realizarmos uma atuação racional.    Em relação a cirurgia da mão, fica muito claro que é uma área de atuação da ortopedia e ela sempre estará presente em áreas com grandes centros de trauma e reabilitação.

 

  1. Quais os principais desafios do médico no Brasil?

Como qualquer profissional, o nosso País é um país de muitas possibilidades de carreira e sucesso, mas ele é socialmente injusto. Então, o médico hoje tem como desafio o aumento abrupto da população de médicos formados. Ele tem com isso uma redução do seu mercado de trabalho, tem como aspecto preocupante que o número de médicos formados e a quantidade de vagas em residência médica não é proporcional, então tem esses desafios. As vantagens que ainda temos é que aquele médico que se dedica a profissão, que tem a vocação e que tem a vontade de ajudar o ser humano, com uma boa formação médica terá sucesso. Eu acredito que a profissão ainda tem essa luz, mas os principais desafios são desorganização do sistema de saúde, a falta de uma carreira médica e a aplicação de uma lógica de mercado em uma profissão que atua no direito social.

 

  1. Como as sociedades médicas podem contribuir para o crescimento de uma medicina de qualidade no Brasil?

Eu acho que a utilização do conhecimento deve ter sempre um cunho social. Nós não podemos promover o conhecimento para ele ter um acesso eletivo. Nesse sentido, as sociedades médicas devem fazer protocolos com linhas de cuidado das suas principais doenças, para que ela consiga transmitir esse conhecimento de uma forma racional, de uma forma que haja minimização de erros, e de uma forma que você consiga fazer uma prática médica de boa qualidade. Essa é a grande contribuição, trazer o conhecimento, trazer a ciência para que o médico, ao lado desse conhecimento, com sua arte de relacionamento, faça com que nós possamos fazer uma medicina de qualidade. É impossível ter uma medicina de qualidade sem ciência, mas também a ciência só não basta para uma medicina de qualidade.

   
   
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